Mensagem Para Você

“Serviço de Mensagens Curtas ou Short Message Service (SMS) é um serviço disponível em telefones celulares que permite o envio de mensagens curtas.

O termo Torpedo é utilizado no Brasil para designar o nome das mensagens escritas que são enviadas para o celular, como SMS e MMS.”

Quem é que não gosta de receber, ou enviar, os famosos “torpedos”?

Por vezes são um pouco frios, mas mesmo assim, conseguimos expressar uma ideia, marcar encontros com os amigos e resolver qualquer assunto (eu disse “qualquer assunto”?) com poucas palavras.

Tem gente que simplesmente ignora o significado da sigla SMS e o transforma no principal canal de intermináveis conversas, e eu não estou imune ao seu charme irresistível.

Eu costumo desenvolver tantas conversas via torpedos, que dariam para escrever um livro de crônicas. E o mais engraçado é que basta um simples “oi, tudo bem?” pra desemaranhar uma longa conversa.

Eu ainda fico ansioso pela resposta a cada SMS que envio. Meu coração chega a parar por alguns segundos, minhas mãos ficam suadas à espera da nova mensagem que deverá (ou não) ser respondida com o máximo de rapidez que me for possível no momento e que sempre chega cortejada por um toque específico para SMS e uma mensagem no visor:

“1 Nova Mensagem de:”

E, dependendo do assunto, esta simples mensagem pode se tornar um flerte fatal, um diálogo amistoso, uma discussão calorosa, uma cervejinha no bar da esquina (ou o saldo restante de seus créditos), enfim, uma infinita gama de assuntos inadiáveis.

Mas existe um grave problema no SMS: é quando a resposta insiste em não chegar.

Não há nada mais apavorante, para um viciado em SMS, que uma mensagem não respondida. Você fuma um cigarro, dois, três, toma um café (eu prefiro coca-cola ou uma cerveja), duas aspirinas, anda de um lado para o outro, confere o celular de 5 em 5 segundos e nada da resposta aparecer para te tirar do abismo sufocante da angustiante e eterna espera pela resposta. Você precisa da resposta, você quer continuar o diálogo, transformá-lo em uma epopéia majestosa, quer fazer do seu “Short Message Service” o seu “Super Message Service”.

Já cheguei a enviar textos enormes via SMS, como, por exemplo: letras de músicas, trechos de poemas, poemas inteiros, trechos de um capítulo de determinado livro, e, até mesmo, o capítulo inteiro. Você nem pode imaginar quantos torpedos são necessários (e nem o valor de tudo isso) para se poder enviar “O Corvo”, de Edgar Allan Poe. Claro que teria sido mais rápido e, com certeza, mais barato enviar via e-mail, mas não teria a mesma emoção, a mesma urgência, a mesma empolgação e a mesma ansiedade pela resposta.

Sou tão viciado em SMS que uma antiga namorada decidiu (de forma impiedosa) terminar o namoro usando desse artifício. Foi trágico ver o meu tão amado SMS ser transformado em (quase) um equipamento de tortura, um interlocutor da maldade e crueldade alheia.

Por outro lado, foi via torpedo, que “xavequei” a minha atual namorada.

Mas tem o torpedo que você não quer responder, nem por reza brava.

Como o que eu recebi de um amigo há algum tempo (é, Breno, isso também aconteceu comigo):

- E aí, Vinnie? O que você está fazendo?

- E aí, cara! Estou tentando escrever uma nova crônica! E você?

- Eu também não estou fazendo nada. Vamos beber uma gelada no bar da esquina?

A partir daí não respondi mais.

E fiquei pensando, grilado:

- Como assim “não estou fazendo nada”. Eu disse que estava tentando escrever uma nova crônica, %$#@*&%$#@.

Como Escrever Uma Crônica?

Com certeza não no ônibus, pois a letra fica horrível, mas se você não quiser ouvir o meu conselho, vá em frente, mas pelo menos ouça este outro: não use lapiseira, pois o grafite quebra a toda hora.

Eu estava procurando a melhor posição, esperando o melhor momento de escrever (que é justamente a hora em que o ônibus para, alguém sobe ou desce - ou ambos), para escrever aquela frase inteligentíssima que tinha acabado de sair do fundo da minha alma e, quando o momento certo chegou, me dei conta: esqueci a frase.

Talvez fosse aquela a frase que desencadearia um parágrafo salvador da pátria e, consequentemente, se formariam vários outros parágrafos igualmente interessantes e minha crônica seria perfeita, mas não foi isso o que aconteceu.

Pronto. A viagem insólita por vários bairros da cidade, até chegar o meu, que é sempre o último, chega ao fim.

Encontro-me, agora, no aconchego do meu lar. Descanso um pouco da viagem, bebo algo gelado, pego alguma coisa para comer, tomo um bom banho, assisto a um pouco de televisão e sento em frente ao computador. Abro o Word e aquela tela branca de “novo documento” chega a me hipnotizar. Fico ali, parado, esperando a tal da inspiração chegar, mesmo que em forma de surto ou devaneio (ou outras verdades). E nada acontece. Nenhuma ideia genial. Simplesmente as palavras não vêm.

Ligo o videogame para relaxar um pouco, mato alguns zumbis, ganho algumas corridas (não chego a perder, pois antes disso eu seleciono a opção “restart race” e começo a corrida de novo), esperando que algumas vitórias inflem meu ego e me inspirem de alguma maneira, mas não é o suficiente.

Coloco uma musiquinha no Media Player, daquelas bem inspiradoras (pensei), tipo a do Bobby McFerrimDon’t Worry, Be Happy. E, de repente... nada.

Tento buscar inspiração nos meus ídolos da literatura (V. de M., Veríssimo, Jabor...), visito alguns sites e blogs na internet, assisto a alguns vídeos de comédia Stand Up no You Tube, mas é em vão: nada daquilo faz a minha mente brilhar e abrir as portas mágicas da crônica.

Comecei a me perguntar, tentando resgatar da memória, como foi o meu dia. O que fiz ou o que aconteceu de interessante que possa ser usado para escrever a tão sonhada crônica...

E a resposta saltou diante dos meus olhos:
- Eu passei o dia todo tentando escrever uma crônica!

Mas como é que se escreve uma crônica?