Não Sei Ser Eu

 

 

Não sei sentir…
Não sei ser humano…
Não sei conviver, de dentro da alma triste,
Com os homens – meus irmãos na Terra.

Não sei ser útil…
Mesmo sentindo ser prático, cotidiano,
Nítido.

Vi todas as coisas e maravilhei-me de tudo,
Mas tudo sobrou ou foi pouco – não sei qual.
E eu sofri.

Eu vivi todas as emoções,
Todos os pensamentos,
Todos os gestos…
E fiquei tão triste
Como se tivesse querido vivê-los
E não conseguisse.

Amei e odiei como toda gente,
Mas para toda gente isto foi normal
E instintivo.
Para mim sempre foi a exceção,
O choque, a válvula, o espasmo…

Não sei se a vida é pouca
Ou demais para mim
(Seja como for a vida – de tão interessante que é).

Todos os momentos a vida chega a doer,
A enjoar, a cortar, a roçar,
A ranger…

A dar vontade de dar pulos,
De ficar no chão…
E sair de todas as casas,
De todas as lógicas,
De todas as sacadas…

E ir ser selvagem…

Entre árvores e esquecimentos.

 

 

 

S. Paulo, 3, noite de uma terça-feira triste de Outubro de 2000.

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