Escrevendo Uma Crônica: Parte III

Chegou a Tarde

Vou até o boteco e como qualquer coisa rapidamente para voltar correndo para casa e trabalhar na crônica. Nem fiz questão de pedir a terceira cerveja...

Chego em casa... Pego a terceira cerveja e penso:

“Comida eu não tenho, mas tenho uma garrafa de Jack Daniel’s e cerveja. E que não falte a bebida para que pior não seja!”.

Sento-me, novamente, em frente ao computador. Abro o Word. Começo a escrever, mas paro no meio do caminho porque me lembrei de uma piada que escutei no bar.

Acho melhor parar um pouco e relaxar. Pego a quarta cerveja. Tento ler o jornal, se é que posso chamar de “ler o jornal” o ato de ir direto à seção do horóscopo e da tirinha do Garfield.

De repente sinto vontade de dormir, mas sei que se fizer isso não termino o texto nesse ano.

Fecho o Word e pego uma dose generosa de Jack Daniel’s. Tenho a ideia de assistir a um filme inspirador, tipo: Jerry Maguire, Duelo de Titãs ou Coach Carter (escolhi a terceira opção). Apaguei na metade do filme.

Acordo 3h após o termino do filme. Abro o Word e leio o que escrevi até o momento – eu tentei, mas não rolou.

Lembro-me da gata que até agora não deu sinal de vida e o sábado já está no fim. Penso que ela poderia estar aqui, mas ela é muito estranha, não a entendo.

Entro em pânico ao perceber que estou fazendo papel de idiota pensando que ela é estranha, já que o estranho sou eu por não aceitar que ela está me dispensando.

Fico um pouco chateado por causa disso e começo a acreditar que sair de casa seria uma ótima ideia, quem sabe um cineminha me ajudaria a clarear a cabeça. Mas lembro de que o maldito cinema, no fim de semana, é monopolizado por dezenas de casais se pegando por todos os cantos. Desisto, por ora. Penso em chamar a minha irmã, mas ir ao cinema com a irmã é o mesmo que assinar um certificado de incompetência, mesmo que ela não pense assim.

Enfim, desisto de uma vez do cinema - e da crônica.


(Continua…)

Escrevendo Uma Crônica: Parte II

 

Sábado ou “O que aconteceu ontem?”

Sábado de manhã, ressaca, dor de cabeça sem fim que chega a parecer que todas as baterias de todas as escolas de samba de São Paulo resolveram tocar dentro da minha cabeça, de uma só vez.

A geladeira parece uma cidade fantasma daqueles filmes antigos de faroeste de tão vazia que está.

Sento-me em frente ao computador para escrever mais uma crônica. Sinto-me inspirado, como se fosse a porta para um best-seller, mas não me lembro de absolutamente nada à respeito das filosofias de boteco que vieram à tona entre a segunda dose de Jack Daniel’s e a quinta cerveja.

É neste momento fatídico que recebo a visita de uma velha conhecida: a Síndrome da Página em Branco. É quando eu fico com os olhos fixados na tela branquinha do Word, quase num transe, acreditando que estou inspirado, porém, meus dedos não chegam nem perto do teclado e fico ali, paralisado, sem conseguir escrever uma frase completa que valha alguma coisa.

E isso se prolonga por horas e nesse meio tempo fico fazendo qualquer outra bobagem com o computador, esperando, e o pior, acreditando (o que eu posso fazer, sou um crédulo) que a crônica descerá dos céus numa luz divina. Abro meu e-mail, entro em um site qualquer, faço alguns downloads, olho o celular e vejo o tempo passar.

Abro o Word. Vejo a página em branco e penso que devia estar fazendo algo útil ao invés de estar perdendo um tempo precioso tentando escrever uma crônica.

Consigo digitar qualquer coisa, mas nada do que escrevi nas quase duas páginas valeu o esforço e acabo por assumir:

“Ficou uma merda.”.

Fecho o Word, olho no relógio do computador e meu estômago confirma que está na hora do almoço.

Preciso comer alguma coisa, mas não há nada no armário além de sacos de pão vazios. Vasculho por entre os sacos e encontro um com pães velhos (ótimo, torradas), mas os pães estão tão embolorados que parecem estarem vivos e prontos para me atacar.

Desisto da busca e volto para o computador e penso em chamar alguém para almoçar fora, talvez até me sirva de inspiração. Quis chamar algum amigo, mas isso poderia ser uma péssima ideia, pois eu correria o risco do almoço se transformar em cervejada e, adeus crônica. Vou chamar uma amiga – eu sei, fui ingênuo.

Ligo para uma, duas, três... E a soma vai aumentando em escalas exorbitantes, nenhuma aceitou porque acharam que era só mais um xaveco furado.

(Continua…)

Escrevendo Uma Crônica: Parte I

Escrever poderia ser uma prática incrivelmente fácil. Basta me lembrar de que pode acontecer que alguém leia isso que logo me dá um branco e demoro uma eternidade para terminar a crônica.

No meu caso, quase todas as crônicas são escritas no fim de semana - durante a semana não faz sentido perder tempo útil com tanta baboseira.

Mais uma Sexta-Feira

Ao sair para beber uma gelada, as ideias começam a fluir, como um rio em direção ao mar. E, de acordo com o meu grau alcoólico, às vezes, acende a lâmpada acima da minha cabeça e penso:

“Puuuuuuta que me pariu, isso dá uma crônica!”.

Não vou negar que isso também acontece às segundas, terças, quartas e quintas-feiras, mas a diferença é que somente na sexta-feira me sinto prepotente o suficiente para acreditar que vou me lembrar de tudo no dia seguinte.

Eu costumo ter sempre um caderninho de anotações no bolso, afinal, nunca sabemos quando alguém vai levar um tiro na rua, ou for assaltado, ou mesmo, atropelado - e se eu fosse um repórter de algum jornal sensacionalista, seria a oportunidade perfeita para perguntar ao familiar da vítima que presenciou tudo:

“Como a senhora está se sentindo?”.

Quando estou sozinho no escritório, digo, no bar, tento tirar o caderninho do bolso discretamente e rabisco rapidamente alguma ideia repentina usando palavras-chave em forma de equações bem simples, tais como:

Cerveja + mulher bonita = retribuição divina;
Cerveja + mulher feia = acúmulo de créditos no céu;
Mulher feia – cerveja = missão divina;
Cerveja + cerveja = nirvana.

E por aí vai...

O meu problema é, mais uma vez, acreditar cegamente que vou conseguir lembrar no sábado pela manhã o que cargas d’água significam aquelas palavras-chave. Claro que isto se torna uma epopéia já que, dependendo mais uma vez do meu grau alcoólico, minha letra fica indecifrável.

(Continua…)