Que Mente Insana Desistiria do Amor?

 

 

Todos sabem que muitas dores são recalcitrantes e detestáveis aliadas do amor. Mas quem nesse mundo desprezaria os sabores e os prazeres de um romance com receio de sentir suas angústias, suas possíveis decepções? Como renunciar as fragrâncias da paixão, com medo de um sofrimento que pode estar guardado no futuro, num pedaço do tempo que ainda não conhecemos?


Como dizer não aos prazeres da carne e da alma, quando nos aperta o peito o bater acelerado do nosso coração desatinado que fala mais alto dentro do nosso mundo conselheiro? Sendo a vida bela somente pelos encantos que ela oferece, quem ousaria não entrar nesse barco para iniciar uma talvez acidentada viagem sentimental pelo mundo dos sonhos que maravilham nossos dias?

Mesmo sabendo que o amor e o desafeto andam de mãos dadas, que importa o amanhã se hoje beberemos do suor dos amantes? Que venha o futuro com a inconsequência do seu desatar de nós, que foram atados pela sadia alucinação do amor. Quem desprezaria as juras de amor que julgamos eternas, sussurradas aos nossos ouvidos pelas bocas rubras que beijamos que nos entorpecem com seus aromas, que desenham estradas ardentes no solo fértil das nossas peles apaixonadas?

Sabemos que no amor o impossível quase sempre acontece, mas quem, na ânsia de ver seu reflexo no colorido de outros olhos, teria a imensa e insana coragem de se afastar da sua Bem-Amada (ou do seu Bem-Amado), temendo o que não podemos adivinhar?


Que venha o dia seguinte, que hoje estamos hipnotizados pela profusão da lua cheia, pelas estradas das estrelas, pelos ventos que invadem nossas janelas, desalinham nossos cabelos enluarados, descobrem todos os nossos lençóis, nossos segredos, nossa paixão.


Que partam para longe os nigromantes que inventaram o desafeto, se hoje a fantasia da vida pinta com as cores dos arco-íris as paredes dos nossos refúgios amantes. Que voem nos maus ventos esses mandingueiros que inventaram o sofrimento, pois temos ao amanhecer um jardineiro encantado plantando nas nossas janelas o colorido das orquídeas. Semeando nas nossas almas o nascer de uma floração que se extasia com cada traço de luz que nasce pelos olhos coloridos de uma nova alvorada.


Que carta ameaçadora pode nos mandar o futuro falando de um amor que findou, se hoje podemos espalhar pelo chão ardente de um amor que nos incendeia as entranhas, infindáveis páginas escritas pelas línguas ávidas de desejos, que recitam poesias em nossos corpos vibrantes, que escrevem versos nas nossas carnes trêmulas de desejos? Por que precisamos adivinhar o que vem sendo costurado pelo tempo, se hoje podemos costurar nossos próprios sonhos, escrever nossa história apaixonada nos travesseiros azuis, nas cobertas macias, com nossas mãos audaciosas e valentes plenas do mais puro amor do mundo?

Hoje, particularmente, não me preocupo com o declínio de um amor, com as ciladas que possam me surpreender, com o recuo de um afeto, se agora, são imensamente intensas e extensas as glórias do amor e da paixão. Que o futuro e os feiticeiros da dor ardam no fogo da inveja, porque só o hoje interessa ao meu coração.

 

 

 

 

S. Paulo, 14, manhã de uma terça-feira cinza de Dezembro de 2010.

O Outro Eu

 

O outro eu é doido. Completamente insano. Faz coisas que nem ouso sonhar (e nem entendo).

O outro eu tem mais tattoos. E tem piercings e um cabelo legal.

O outro eu não está nem aí para o que os outros pensam. Xinga os atendentes de telemarketing no telefone. Grita. Esbraveja.

O outro eu surpreende até a mim.

O outro eu tem habilitação e dirige até caminhão. Anda de moto e não tem medo de avião.

O outro eu sabe nadar e não tem medo do mar. Nem de altura. Nem de não conseguir o que mais deseja.

O outro eu não chora assistindo filme de comédia romântica.

O outro eu é forte e não dá a mínima para a solidão. Consegue dormir tranquilo a qualquer hora do dia (e da noite).

O outro eu é louco e me dá medo. E não tem medo de nada. Consegue escrever uma crônica em 20 minutos. Sem necessitar de revisão.

O outro eu é interessante. Tem dezenas de amigos confiáveis. E todos gostam muito dele.

O outro eu bebe uma caixa de cerveja e nem fica tonto. Nem vai ao banheiro. E não tem medo de dizer não.

O outro eu escreve coisas absurdas em espanhol. Blasfema em francês. Canta em inglês e recita belíssimos poemas em italiano.

Ninguém se compara ao outro eu. Eu fico pasmo. Ele não ouve bobagens e deixa por isso mesmo. Nunca leva desaforo para casa.

O outro eu lê três livros por semana. E sempre os lê até o fim, mesmo se o livro for ruim.

O outro eu faz “mochilão” pelo mundo. Acampa. E não tem medo de viajar sozinho. E nem de se hospedar em hostels com desconhecidos.

O outro eu sempre tem histórias para contas. Pessoas para encantar.

O outro eu, às vezes, me olha de lado. Meio esquisito. Nem me reconhece.

O outro eu é diferente de mim. Ele é mais bonito. Todos gostam dele. Vive rodeado de amigos. E é inteligente.

O outro eu é sempre lembrado com carinho durante as conversas animadas.

Acho que o outro eu é um amigo imaginário. E, mesmo assim, ele consegue rir de mim.

Namorar ou não Namorar? Eis a complicação…

 

Ultimamente tenho conversado com as pessoas sobre relacionamentos e o conflito de interesses que ocorre neles.

Vou tentar explicar melhor:

Fulano, um cara legal, engraçado e que possui um blog criativo, conhece Beltrana. A princípio eles tornam-se amigos, sem se falar muito. Com o tempo, essa amizade vai crescendo, eles se falam mais e mais, até que Fulano vê em Beltrana aquilo que estava procurando há tempos: alguém que o faz sentir-se bem, que dá aquele friozinho na barriga quando a vê. Até ai, temos todos os ingredientes para mais um filme água com açúcar. O problema é que essa é a deixa para o vilão da história: o tal do conflito de interesses.
Junto com ele, entram em cena os coadjuvantes. Beltrana, que apesar de teoricamente ver algo em Fulano (eu disse teoricamente), gosta de Ciclano (ou Cicrano, como alguns preferem). Esse, por sua vez, não quer nada com Beltrana, uma vez que gosta da Seilaana (e não seria surpresa se ela se interessasse por um Qualquerano da vida). Pelo outro lado, Amigana, que (obviamente) é amiga de Beltrana, se interessava por nosso protagonista, o que acaba por dificultar qualquer possibilidade de entendimento entre Fulano e Beltrana. Voilá, em pouco tempo passamos de filme água com açúcar para uma novela mexicana.

Essa é uma história fictícia e qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência Mas acredito que entenderam o que eu quis expressar aqui, certo?

Agora a pergunta que não quer calar: Por que as pessoas simplesmente não gostam de quem gosta delas? Ao invés disso, preferem correr atrás, chorar, ficar mal, etc., por pessoas que também gostam de outras pessoas, que gostam de outras pessoas… Alguém parou pra pensar nisso em escala mundial (mundial é exagero, mas imaginem uma escala menor, no seu bairro, por exemplo)?

Por falar em filmes...
Juro que, às vezes, dá vontade de jogar tudo para o alto, queimar todo o meu dinheiro (que dinheiro?), meus documentos, adotar um nome qualquer e ir viver sozinho
na natureza selvagem do Alaska.

Incógnito

 

Desde criança eu quis ser mais notado, sempre estava inventando coisas para que meus pais pudessem fazer algum comentário (longo o suficiente para inflar o meu ego infanto-juvenil). E, realmente, fui notado no ensino fundamental, por duas vezes, que valeriam, ambas, pelo ano letivo inteiro.

A primeira vez foi na 5ª série, quando me convenceram participar dos Jogos Olímpicos Estudantis (ou algo assim) e me colocaram em três modalidades: salto em distância, 100 m rasos e 100 m com barreiras.

O mais incrível foi que não houve nenhum tipo de treinamento nem nada, apenas me deram um “bilhetinho” com a data, local e horário do evento (lê-se humilhação pública) para o meu “responsável” assinar – se fosse realmente responsável não deixaria que o filho participasse de um massacre dessa magnitude.

Fui razoavelmente mal no salto em distância, incrivelmente ruim nos 100 m rasos, mas a peripécia maior aconteceu nos 100 m com barreiras, onde, com uma habilidade descomunal, derrubei todas as barreiras que encontrei pelo caminho e não foi só isso, era um tombo cinematográfico em cada barreira que eu derrubava. Nunca, na história daqueles jogos, alguém tinha sido tão ruim.

A segunda vez foi na 7ª série quando eu tive a ideia idiota de participar de um capeonato de basquete da escola. E para piorar convidei (intimei) um amigo para ser o meu parceiro na modalidade “duplas” – e na modalidade “humilhação pública”. Fomos eliminados de forma absurdamente humilhante logo no primeiro jogo. Só me lembro que o placar foi um montão para eles e 2 pontos para a gente – consquistados com arremessos livres de faltas cometidas.

O tempo passou e eu decidi me dedicar mais aos estudos. Já que eu não levava jeito para os esportes, queria ser nerd, mas eu era mais rebelde que nerd, embora minha notas fossem dignas o suficiente para eu ganhar uma par de óculos quadrados, um protetor de bolso, algumas canetas, lapiseiras e uma calculadora científica.

(Tudo bem, eu confesso! Eu sou louco por canetas e tenho uma lapiseira Staedtler de estimação).

Eu tinha uma técnica infalível para tirar boas notas: eu só estudava um dia antes da prova e não mais que 1 hora. Aos invés de me acabar de estudar e deixar a diversão para depois eu me sentava na primeira fileira e prestava atenção a tudo o que os professores diziam, a todos os gestos e, até mesmo, no jeito de escrever e na letra de cada um deles. Mudei minha letra inúmeras vezes na época de colégio, sempre me espelhando no professor com a letra mais bonita – sou eternamente grato pela educação de qualidade que todos eles me proporcionaram.

Hoje eu tenho uma letra razoavelmente bonita e com estilo próprio.

E foi assim que me destaquei no colégio…

Mas minha vontade de ser notado se transformou no meu pesadelo pessoal quando dei início à minha epopéia, minha cruzada em busca do meu Santo Graal: o amor.

Hoje, após ter sentido todas as dores de um coração partido várias vezes e de diversas formas diferentes por conta de tentativas frustradas, acreditando, sempre, que um dia minha sorte mudaria e, finalmente, encontraria a mulher que abalaria minhas estruturas e se transformaria, naturalmente, no grande amor da minha vida… Enfim…

Aos trinta e poucos anos, nada mudou significativamente em minha vida e continuo, de certa forma, em busca de amor, mas, não quero mais ser notado… Só quero ser… Incógnito.

Encerro minha crônica com um trecho de Machbeth, de Shakespeare:

”A vida é um conto contado por um idiota, cheio de som e fúria, significando nada.”

Escrevendo Uma Crônica - Parte V (Final)



Domingo


Ressaca, dor de cabeça e uma sede sem fim que, provavelmente, dá nas pessoas que se perdem no deserto do Saara em pleno sol do meio-dia.
Eu olho para o meu barrigão e finjo que meus músculos abdominais cresceram numa proporção astronômica e me lembro da recomendação do instrutor da academia: "Em pleno domingo de sol, uma caminhada e uma salada de frutas lhe fariam muito bem."


Mas uma cerveja bem gelada e uma boa porção de torresmos bem sequinhos também.


Chego no santuário, digo, no boteco, que tem o melhor torresmo da região as 10 da manhã e o lugar já está cheio de fiéis, digo, botequeiros plantonistas.
Após algumas cervejas e uma generosa porção de torresmos olho no relógio e percebo que a tarde já está chegando e eu não terminei minha crônica ainda. Para ser honesto, nem comecei direito. Mas as cervejas, os torresmos e, principalmente, as conversas paralelas não me deixam ir para casa. Até ganhei uma porção extra de torresmos devido a quantidade de cervejas que bebi sozinho.


Decido ficar mais um pouco e logo vão chegando mais fiéis. É praticamente uma confraternização familiar.
E, de repente, fico muito puto da vida por ter esquecido o meu caderninho de anotações. E justo agora que o assunto principal é: "Mineiro, o dono do bar, casou-se com uma menininha de 22 anos."


Estou apaixonado - diz ele.


Eu o olhei (incrédulo), sorri e perguntei, sem delongas:


"Mas Mineiro, o senhor, nessa idade ainda não aprendeu a lidar com as armadilhas da vida? Esta menina vai ferrar a sua cabeça..."


E com uma gargalhada estrondosa, um dos senhores diz:

"Deixa ela ferrar! Quem não quer uma mulherzinha de 22 anos em casa? Queria eu!"



Depois de ouvir isso, pensei:

"Contra um argumento desses não dá para aconselhar absolutamente nada ao Mineiro. Se ele não aprendeu antes, não será agora, nesta idade, que ele aprenderá.



Todos em volta perguntam se ele ainda "dá no couro", ou seja, se ainda faz gol de placa ou se é apenas goleiro (que só usa as mãos).


"Dois golaços todos os dias. E sem o "azulzinho, hein!" Afirma, batendo no peito e consciente de que ninguém engoliu essa história.


Aí todos se viram para mim e perguntam se sou casado.
Sem pestanejar eu assumo que sou e ainda descrevo a felizarda:


"Ela é russa, muito gostosa, toda branquinha e com belos olhos verdes."


E peço para o Mineiro ir chamá-la, o que deixa o pessoal da roda embasbacados.
Alguns minutos se passam e o Mineiro volta com uma garrafa de vodka importada, um copo com gelo e duas fatias de limão.
Eu mal consigo me conter com tamanha falta de noção, mas alguém grita ao fundo:


"Deixa essa aí por minha conta!"


E assim eu economizo a grana da cerveja do dia seguinte.
São quase 17 horas e o sol também já está se preparando para ir beber uma gelada. Melhor voltar para casa. Tenho uma crônica para escrever. E, também, tem a gata que pode me ligar (ou não), que, com tanta confraternização familiar no santuário, digo, no bar, eu tinha até me esquecido do descaso dela.
Mas antes de ir para casa eu me lembro da recomendação do instrutor e peço uma saladinha de frutas:

"Mineiro, embrulha aí, para viagem, uma vodka com gelo e limão e uma dose caprichada de tequila com suco de laranja, pois a caminhada de volta ao lar é longa."
 

Escrevendo Uma Crônica - Parte IV

Sábado à Noite


Não existe um dia na semana que me deixa mais perdido que filho da puta em Dia dos Pais do que um sábado, principalmente à noite. Todo mundo quer se dar bem. Muitos vão para lugares de "pegação" onde ficam feitos lobos correndo atrás de cordeiros e alguns preferem já sair acompanhados para lugares com casais por todos os lados. Ambos os lugares não são para mim, pois é desastroso beber sozinho em qualquer um destes lugares. Decido ir ao bar da esquina (antes isso que ficar aqui em frente ao computador).


Chego ao bar e me deparo com meia dúzia de senhores e dois deles estão espancando suas violas e destruindo impetuosamente algumas canções de Tião Carreiro e Pardinho. De repente me lembrei de uma frase que um conhecido meu dizia:

"Aí eu canto, bebo e choro!"


E foi exatamente o que eu fiz [risos].


Faço algumas anotações no caderninho, em vão, pois sei que não vou fazer ideia do que aquilo significa no dia seguinte.
Já são quase 3 horas da madrugada e nada da gata, que nem se deu ao trabalho de me mandar uma mensagem sequer, muito menos responder as 32 mensagens que eu enviei durante o dia todo. Tento me focar nas anotações que acabei de fazer, mas meu grau alcoólico já não me permite realizar tal milagre. Penso, pela milésima vez, que a desgraçada deve estar embaixo de algum teto de espelhos ou fazendo algo melhor do que estar em minha companhia.


"Caralho, isso já dá uma crônica!" - grito alto no bar e todos olham para mim e eu tento achar um buraco no chão para me enterrar e nunca mais sair de lá [risos].


 Toca o sino. Hora de voltar para casa, me inspirei em minha própria desgraça.
Volto para casa e não sei se fui tele-transportado ou se fui abduzido e, depois, devolvido em casa... Só sei que eu estava no bar, me levantei (batendo na mesa e pedindo para fechar a minha conta e a de todo mundo que lá estava - risos) e meu mundo começou a girar... Depois disso eu já estava em frente ao computador.
Liguei o computador (e Deus queira que aquilo não é a torradeira, de novo) para tentar escrever alguma coisa e antes mesmo de abrir o Word o meu mundo começa o seu movimento de rotação inverso em torno de seu próprio eixo e só deu tempo de tirar os tênis e deixar que a gravidade fizesse o seu trabalho. Em outras palavras: Apaguei!




(Continua...)

Escrevendo Uma Crônica: Parte III

Chegou a Tarde

Vou até o boteco e como qualquer coisa rapidamente para voltar correndo para casa e trabalhar na crônica. Nem fiz questão de pedir a terceira cerveja...

Chego em casa... Pego a terceira cerveja e penso:

“Comida eu não tenho, mas tenho uma garrafa de Jack Daniel’s e cerveja. E que não falte a bebida para que pior não seja!”.

Sento-me, novamente, em frente ao computador. Abro o Word. Começo a escrever, mas paro no meio do caminho porque me lembrei de uma piada que escutei no bar.

Acho melhor parar um pouco e relaxar. Pego a quarta cerveja. Tento ler o jornal, se é que posso chamar de “ler o jornal” o ato de ir direto à seção do horóscopo e da tirinha do Garfield.

De repente sinto vontade de dormir, mas sei que se fizer isso não termino o texto nesse ano.

Fecho o Word e pego uma dose generosa de Jack Daniel’s. Tenho a ideia de assistir a um filme inspirador, tipo: Jerry Maguire, Duelo de Titãs ou Coach Carter (escolhi a terceira opção). Apaguei na metade do filme.

Acordo 3h após o termino do filme. Abro o Word e leio o que escrevi até o momento – eu tentei, mas não rolou.

Lembro-me da gata que até agora não deu sinal de vida e o sábado já está no fim. Penso que ela poderia estar aqui, mas ela é muito estranha, não a entendo.

Entro em pânico ao perceber que estou fazendo papel de idiota pensando que ela é estranha, já que o estranho sou eu por não aceitar que ela está me dispensando.

Fico um pouco chateado por causa disso e começo a acreditar que sair de casa seria uma ótima ideia, quem sabe um cineminha me ajudaria a clarear a cabeça. Mas lembro de que o maldito cinema, no fim de semana, é monopolizado por dezenas de casais se pegando por todos os cantos. Desisto, por ora. Penso em chamar a minha irmã, mas ir ao cinema com a irmã é o mesmo que assinar um certificado de incompetência, mesmo que ela não pense assim.

Enfim, desisto de uma vez do cinema - e da crônica.


(Continua…)

Escrevendo Uma Crônica: Parte II

 

Sábado ou “O que aconteceu ontem?”

Sábado de manhã, ressaca, dor de cabeça sem fim que chega a parecer que todas as baterias de todas as escolas de samba de São Paulo resolveram tocar dentro da minha cabeça, de uma só vez.

A geladeira parece uma cidade fantasma daqueles filmes antigos de faroeste de tão vazia que está.

Sento-me em frente ao computador para escrever mais uma crônica. Sinto-me inspirado, como se fosse a porta para um best-seller, mas não me lembro de absolutamente nada à respeito das filosofias de boteco que vieram à tona entre a segunda dose de Jack Daniel’s e a quinta cerveja.

É neste momento fatídico que recebo a visita de uma velha conhecida: a Síndrome da Página em Branco. É quando eu fico com os olhos fixados na tela branquinha do Word, quase num transe, acreditando que estou inspirado, porém, meus dedos não chegam nem perto do teclado e fico ali, paralisado, sem conseguir escrever uma frase completa que valha alguma coisa.

E isso se prolonga por horas e nesse meio tempo fico fazendo qualquer outra bobagem com o computador, esperando, e o pior, acreditando (o que eu posso fazer, sou um crédulo) que a crônica descerá dos céus numa luz divina. Abro meu e-mail, entro em um site qualquer, faço alguns downloads, olho o celular e vejo o tempo passar.

Abro o Word. Vejo a página em branco e penso que devia estar fazendo algo útil ao invés de estar perdendo um tempo precioso tentando escrever uma crônica.

Consigo digitar qualquer coisa, mas nada do que escrevi nas quase duas páginas valeu o esforço e acabo por assumir:

“Ficou uma merda.”.

Fecho o Word, olho no relógio do computador e meu estômago confirma que está na hora do almoço.

Preciso comer alguma coisa, mas não há nada no armário além de sacos de pão vazios. Vasculho por entre os sacos e encontro um com pães velhos (ótimo, torradas), mas os pães estão tão embolorados que parecem estarem vivos e prontos para me atacar.

Desisto da busca e volto para o computador e penso em chamar alguém para almoçar fora, talvez até me sirva de inspiração. Quis chamar algum amigo, mas isso poderia ser uma péssima ideia, pois eu correria o risco do almoço se transformar em cervejada e, adeus crônica. Vou chamar uma amiga – eu sei, fui ingênuo.

Ligo para uma, duas, três... E a soma vai aumentando em escalas exorbitantes, nenhuma aceitou porque acharam que era só mais um xaveco furado.

(Continua…)

Escrevendo Uma Crônica: Parte I

Escrever poderia ser uma prática incrivelmente fácil. Basta me lembrar de que pode acontecer que alguém leia isso que logo me dá um branco e demoro uma eternidade para terminar a crônica.

No meu caso, quase todas as crônicas são escritas no fim de semana - durante a semana não faz sentido perder tempo útil com tanta baboseira.

Mais uma Sexta-Feira

Ao sair para beber uma gelada, as ideias começam a fluir, como um rio em direção ao mar. E, de acordo com o meu grau alcoólico, às vezes, acende a lâmpada acima da minha cabeça e penso:

“Puuuuuuta que me pariu, isso dá uma crônica!”.

Não vou negar que isso também acontece às segundas, terças, quartas e quintas-feiras, mas a diferença é que somente na sexta-feira me sinto prepotente o suficiente para acreditar que vou me lembrar de tudo no dia seguinte.

Eu costumo ter sempre um caderninho de anotações no bolso, afinal, nunca sabemos quando alguém vai levar um tiro na rua, ou for assaltado, ou mesmo, atropelado - e se eu fosse um repórter de algum jornal sensacionalista, seria a oportunidade perfeita para perguntar ao familiar da vítima que presenciou tudo:

“Como a senhora está se sentindo?”.

Quando estou sozinho no escritório, digo, no bar, tento tirar o caderninho do bolso discretamente e rabisco rapidamente alguma ideia repentina usando palavras-chave em forma de equações bem simples, tais como:

Cerveja + mulher bonita = retribuição divina;
Cerveja + mulher feia = acúmulo de créditos no céu;
Mulher feia – cerveja = missão divina;
Cerveja + cerveja = nirvana.

E por aí vai...

O meu problema é, mais uma vez, acreditar cegamente que vou conseguir lembrar no sábado pela manhã o que cargas d’água significam aquelas palavras-chave. Claro que isto se torna uma epopéia já que, dependendo mais uma vez do meu grau alcoólico, minha letra fica indecifrável.

(Continua…)

Os Templates e Eu

 

Meu relacionamento com os templates começou assim que tive a necessidade de criar um blog. Quando criei o “O que eu tenho? Eu tenho ISSO!” (meu primeiro blog) a tarefa parecia simples, várias opções de templates e era só clicar no preferido e pronto! Eu acreditava que podia fazer o download de vários templates, escolher o que mais se adequava às minhas necessidades e nascia um novo blog, exatamente como fiz da primeira vez, mas não foi tão simples assim.

Escolhi dezenas de templates de vários sites diferentes, só prestava atenção naqueles mais bonitos, mais apresentáveis e fazia o download – descontroladamente – de todos os que eu via pela frente que atendia a esses requisitos mínimos.

Muitos desses templates vinham como arquivos de extensão “XML” (eXtensible Markup Language), mas isso não era problema, afinal, era só fazer o upload do modelo e torcer para que o blogger aceitasse sem maiores complicações. A minha aversão, o meu terror pessoal, sinônimo de noites mal dormidas e que me dava um nó nas entranhas eram os arquivos “TXT” (bloco de notas). Quando eu olhava para aquele emaranhado de códigos, barras para cá, colchetes para lá... Mais barras, tags e, mais tags, um frio – mais congelante que o próprio Alaska – percorria todos os ossos do meu corpo até congelar meu estômago.

HTML? CSS? Porque tenho que aprender Photoshop CS4? Que diabos é Dreamweaver? O que é tudo isso, meu Deus?

Fiquei deprimido, tomei dois comprimidos (escondido do meu ego ferido) e abortei a missão por tempo indeterminado ou até ter paciência e tempo suficientes para encarar o problema (agora eu sei o que é - Adobe Dreamweaver, antigo Macromedia Dreamweaver, software desenvolvimento voltado para a web).

Foi nesse meio tempo (entre aspirinas e tentativas frustradas para fazer funcionar o template escolhido) que me apaixonei por crônicas. Lia bastante, mas queria criar, queria escrever as minhas próprias peripécias literárias do cotidiano e... Escrevi! E pensei (inocentemente):

- Vou escrever algumas crônicas e depois crio um blog para postá-las.

O plano era escrever, no mínimo, dez crônicas para iniciar o blog e ainda ter reservas na medida em que ia escrevendo as novas crônicas [risos incontroláveis]. Eu devia ter prestado mais atenção a um trecho de um texto do V. de M. (Vinícius de Moraes), cujo título é “Exercício da Crônica” em seu maravilhoso livro “Para Viver Um Grande Amor – Crônicas e Poemas” que dizia o seguinte:

O ideal para um cronista é ter sempre uma ou duas crônicas adiantas. Mas eu conheço muito poucos que o façam. Alguns tentam, quando começam, no afã de dar uma boa impressão ao diretor e ao secretário do jornal. Mas se ele é um verdadeiro cronista, um cronista que se preza, ao fim de duas semanas estará gastando a metade do seu ordenado em mandar sua crônica de taxi – e a verdade é que, em sua inocente maldade, tem um certo prazer em imaginar o suspiro de alívio e a correria que ela causa, quando, tal uma filha desaparecida, chega de volta à casa paterna.

Ainda sou um aspirante a cronista e não pretendo trabalhar em jornal algum e, mesmo assim, não consigo escrever crônicas para deixar o trabalho adiantado.

Mas voltando aos templates...

Acabei escolhendo este que vocês vêm (“vocês” foi ótimo – mais risos incontroláveis), mas por comodismo. Não aguentava mais ler sobre HTML, XML e etc.

Mesmo assim este me deu alguns problemas, mas acabou se rendendo e me deixando instalá-lo, como num ato de misericórdia por ver meu esforço.

O que eu aprendi com tudo isso?

- Nunca, em hipótese alguma, queira instalar algo que você não entende. Todo mundo tem um amigo nerd para fazer isso por você. Ligue para ele e peça gentilmente: “Socorro, pelo amor de Deus, instala um template novo no meu blog, por favor. Te apresento aquela minha amiga que você ‘paga um pau’ há séculos. O que me diz?”.

S. Paulo, 15, uma terça-feira de Junho de 2010.

Carta Aos Amigos E Ao Amor Que Ainda Não Veio

 

Sei que é só em março,
O mês que trás regaço,
Mas já me adianto com certa ansiedade…
É quando acrescento mais um ano na idade.

(É! Sobrevivi aos fatídicos 27 e, também, aos tormentos dos 30)

Não refiz planos de vida nem de sorte…
Por algum tempo a´te desejei a morte…
E por falar nisso,
Continuo com o coração inerte,
Mas não se assustem?
Com os meus sumiços…
Só fiquei um tempo
Sem acesso à internet.
Não desejo mais ser um vencedor…
Só quero que a solidão
Não me cause mais dor.
Cansei dessa coisa toda de “ser”…
E dessa história de “chegar lá”…
”Lutar” e
”Crescer”…
Que além de me causar cansaço
É só pra encher o saco!

(Por mim, sobreviver e não fazer merda já basta!)

Não quero grana,
Não quero fama,
Não quero ser o melhor…
Ainda quero um amor verdadeiro, mas…
Quero é (tentar) ir com calma
E alma…
Envelhecer tranquilo
E sem maiores grilos…
E, neste mundo,
Ver o que ainda virá
E nos surpreenderá…
No mais, cervejas e histórias para contar
Aos poucos (e bons) amigos do peito!
E acho que é isso…
É. É isso, sim!

E a poesia?

Quase me esqueci da poesia:

Aqui jaz um egocêntrico:
Que escreveu nada além de sentimentos.
Extremamente monotemático
E temperamental desde os primórdios dos tempos:
Eu, Vinícius Bento.

 

 

 

S. Paulo, 25, uma sexta-feira de Setembro de 2009.

N. do A.: o poema sofreu modificações necessárias, pois, só os idiotas não mudam de ideia.

Muito Além De Amar…

 

É pouco te ver,
É pouco mesmo te ter…
Como então satisfazer
A ânsia de te querer?
E como vencer o medo de pensar em te perder?
Não me contento em te amar:
Preciso ir muito além!
Queria poder fundir meu ser com o teu ser…
Eu não só adoro te adorar:
Além de adorar te adorar,
Amo te amar!

 

 

 

S. Paulo, 30, uma quinta-feira d Abril de 2009.

Namorar

 

Namorados: solteiros e casados.
Um jeito de ser apaixonado;
Um constante estado de cativar;
Um infindável sentido de junto querer estar.
Conjugação plena e infinita do verbo AMAR.
Sentir no coração o mesmo palpitar:
Inconfundível tremor só de pensar.
Uma música marcada na memória
Para eternamente lembrar.
Sentir o mesmo perfume,
mesmo quando junto não se está…
Namorar:
Romântica expressão
do verbo AMAR!




 

S. Paulo, 27, uma inspiradora segunda-feria de Abril de 2009.

Nada Calará Meu Coração

 

Ainda que eu perca a sensibilidade nas mãos,
Que perca os movimentos…
Nada
Nem ninguém
Irá calar meu coração.
Ainda que eu não possa mais escrever,
Que não possa mais falar…
Nada
Nem ninguém
Irá calar o meu coração.
Pois meus versos continuaram a ecoar na imensidão.

 

 

S. Paulo, 24, uma sexta-feira de Abril de 2009.

Em Busca do Porto Seguro

 

Às vezes sinto
Que a única coisa
De que preciso
É um ombro
Onde possa encaixar-me…
Alguém que me ajude
A superar os medos,
Que caminhe ao meu lado…
Um porto seguro
Onde meu barco aporte.

 

 

S. Paulo, 15, uma quarta-feira de Abril de 2009.

Como?

 

Como você pôde se esconder de mim
Por tanto tempo?
Agora, que a tenho em minha vida,
Diz-me como…
Como conviver com a tua ausência,
No escuro da noite,
Se o cobertor não me aquece
Como imagino que o teu corpo possa me aquecer;
Se no travesseiro não repouso,
Como imagino que repousarei em teu seio;
Se a cama não me conforta,
Como imagino que teus carinhos
E teus doces beijos me confortarão…?
Diz-me como…
Como suportar não ter-te ao meu lado
A todo instante
Se tu estás, permanentemente,
Dentro de mim?
Como?

 

 

 

 

S. Paulo, 15, uma quarta-feira de Abril de 2009.

Eu, Poeta

 

Um corpo gélido
Uma mente a fervilhar
Palavras fluindo
Formando um versejar
Um coração em abandono
Uma mão a se ocupar
Inspiração surgindo
Fazendo a testa suar
Uma alucinação
Um escrever sem parar
Versos e mais versos
Tornando-se um poetizar
Uma confusão de sentimentos
Um poeta a surtar
Louco rindo
A se imortalizar




 

S. Paulo, 13, uma segunda-feira de Abril de 2009.

Pensamentos, Divagações, Devaneios e Outras Verdades

 

Vou descendo a rua…
Sinto-me livre!
O vento batendo contas minhas costas
Impulsiona-me…
Abro os braços,
Tenho vontade de voar.
Descendo a ladeira
E vendo o horizonte,
Sigo sozinho,
Caminhando…
Em meio a pensamentos,
Divagações, devaneios…
Percebo a ilusão decrépita de mim mesmo
Contrastando com a imagem incrédula do espelho…
Não se quem sou
Nem o que deveria ser…
E tudo isso é loucura.
Segundo após segundo…
São delírios que se harmonizam com meus passos:
Instantes de um surto inexplicável
em que tento achar saída
Para perguntas sem respostas…

 

 

 

 

 S. Paulo, 9, uma quinta-feira de Abril de 2009.

Relacionamentos Humanos Em Tempos de Micro-ondas

 

Os dias passam, e cada vez mais percebo um mundo solitário formando-se ao meu redor. As pessoas não se conhecem e nem se preocupam umas com as outras e as relações são todas instantâneas; o prazer é imediato e não necessita de conquistas.
Não há tempo para saborear um beijo, deliciar-se com um abraço, apenas engole-se tudo isto sem mastigar, e por mais incrível que pareça, não há engasgo; tudo é tão habitual que não há surpresas diante destas cenas.
O vizinho é apenas o “cara que mora ao lado” e o colega de trabalho (ou de escola) é apenas alguém que trabalha (ou estuda) no mesmo lugar que você.
O grande “barato” é “ficar” e, quanto mais, melhor; o nome do(a) “fulano(a)” não importa, o que interessa é se ele(a) era bonito(a); e depois? Ah, depois a gente escolhe um(a) melhor ainda, porque, “a fila anda!”.
Tudo tem que ser rápido e prático, dentro ou fora da cozinha, troca-se a massa feita artesanalmente pelas “mamas” por “macarrão instantâneo” e “lasanha de micro-ondas”.
E, enquanto isso, existem caras, como eu, que querem muito mais que isso. Não queremos, simplesmente, “ficar”. Queremos compromisso, queremos ter para quem ligar no meio da noite só para ouvir a voz da Bem-Amada. Queremos ligar pela manhã só para falar “bom dia!”. Queremos passeios de mãos dadas. Palavras de carinho sussurradas no ouvido. Queremos dar flores numa data qualquer. Queremos nos divertir, mas com a Bem-Amada. Queremos ser felizes fazendo alguém feliz e isso nos basta…
Mas será que isso ainda é importante para as pessoas nos dias de hoje?

Não sei responder…

 

 

S. Paulo, 9, uma quinta-feira de Abril de 2009.

Ainda Sei Amar

 

Há ainda
Amor em meu peito:
Preso,
Guardado,
À espera…
Há ainda
Amor em meu peito:
Latente,
Inativo,
Aguardando o futuro…
Há ainda
Amor em meu peito:
Sóbrio,
Imenso,
Contando os segundos…
Há ainda
Amor em meu peito:
Pronto,
Maduro,
Querendo mostrar-se…
Há ainda
Amor em meu peito:
Solitário,
Carente,
Tentando amar…
Há ainda
Amor em meu peito:
Querendo aprender,
Querendo ensinar,
Querendo apenas mostrar
Que ainda sabe amar.

 

 

 

S. Paulo, 9, uma quinta-feira de Abril de 2009.

Amor: Passado e Futuro

 

Quantas vezes achei que a tinha encontrado,
Quantas noites pensei que era amado,
Quantos enganos vivi,
Quantas vezes o coração pulsou acelerado,
Quantos sonhos sonhei acordado,
Quantos versos escrevi…
E tudo passou…
E acabou-se.
Tudo, agora, é só um passado a recordar,
Lembranças de um leve respirar…
Recordações tristes,
Doces saudades…
Quantas lágrimas rolaram,
Quantos cabelos afaguei,
Quantos dias passados na ilusão,
Quantos lábios beijaram-me,
Quantos rostos acariciei,
Quantos momentos de paixão…
Instantes perpetuados…
Na eternidade de amar…
No eterno indagar:
Quanto tempo hei de esperar para, enfim, o amor encontrar e viver um doce delirar?

 

 

 

S. Paulo, 6, uma segunda-feira de Abril de 2009.

Um Sol Ardente Em Seus Olhos

 

Entre o paraíso e o inferno, procurei por você…
Porque foi desta forma?
Não sei responder, mas mesmo assim continuo a lhe procurar.
Porque você se esconde dessa forma? O que ou quem pode ser o culpado por tanta dor, por tamanha solidão?
Passo os segundos a rezar, como um padre, esperando que um Deus possa me escutar.
Já não sei mais o que fazer de um vida tão sofrida, já não sei como prosseguir por esta estrada que me conduz ao infinito de lugar nenhum.
Você sabe o que fazer, sabe como conduzir-me por entre os espinhos desse jardim tão sem vida.
Só você sabe como cicatrizar tal ferida que afoga-me em minhas próprias lágrimas.
Estou perdido na escuridão de uma floresta, gritando de joelhos, rogando para que um Deus, num momento de compaixão, possa me levar de volta a tal paraíso.
Quem sabe essa mórbida escuridão caia frente ao intenso brilho de um sol ardente em seus olhos.

 




S. Paulo, algum dia do mês de Agosto de 2002.

Das Coisas Que Sinto…

 

Não peço nada,
Só quero o Tempo
Para guardar
Eternamente o que sinto por ti.
Hoje, de algum lugar longe de ti,
Há um doce olhar só para você,
Um olhar especial,
De alguém, que você mesma diz ser especial…
Olhar de um coração que pulsa só a vida,
Que sorri porque ama plenamente e
Tenta que seja, sem julgamentos,
Preconceitos nem prisões.
Hoje, como ontem, longe dos seus olhos,
Há um apaixonado olhar só para você.
Nesse olhar, vai para você a magia da luz,
A simplicidade do perdão,
A força para comungar com a vida
A esperança de dias mais radiantes de paz.
Hoje, de algum lugar dentro de você,
Alguém que a ama muito, e sempre mais e mais,
Diz para você que vale a pena estar contigo
Sob este céu,
Falando de união, paz, amor e perdão.
Poder sentir a força faz você sorrir
E continuar o caminho.
Tudo isso só para você saber o quanto é amada e o quanto é bom ser seu namorado.

 

 

S. Paulo, 3, (já ouviu falar em surto poético?) uma inspiradora quarta-feira de Dezembro de 2008.

Das Coisas Que Quero…

 

Queria tanto…
Que as palavras tivessem cor, cheiro e paladar
E que ao escrevê-las, elas te pudessem tocar.
Queria tanto…
Que cada beijo que te envio
Pudesse tocar esses seus lábios.
Queria tanto…
Que cada abraço que te escrevo com ternura
Pudesse colar nossos corpos com toda doçura,
Pudesse despir-me de tudo que me afasta
E tudo que me pôe longe de ti
E que pudesses sentir-me…
Sentir-me como sou:
Apenas teu!
Queria tanto…

 

 

S. Paulo, 3, (acredita agora?) uma inspiradora quarta-feira de Dezembro de 2008.

Do Que Sei…

 

Existe outro motivo que está por trás de tudo…
E ele é imenso e vermelho…
Mas não é racional.
Esse é o motivo pelo qual não deixo de pensar em você,
O motivo pelo qual a sua ausência é um vazio tremendo,
O motivo pelo qual estou aqui…
O Amor!
Comecei te achando legal, depois, mais que isso e, depois, me apaixonei e agora te amo.
Vou lutar por isso,
Enquanto eu souber que você está aí, em algum lugar.
E não duvido que isso tenha força o bastante para, até, atravessar a linha da vida.
Amo e amo muito…
E não preciso de ninguém me dizendo se amo ou não,
Se quero ou não:
Disso eu bem sei.
Eu só preciso saber se você quer e se você gosta.
Porque isso sim, me foge à sabedoria.
Eu quero que me ame até o meu último fio de cabelo.
Eu perdi o medo de amar ao te conhecer e, estou aqui, te juro,
Sem nenhum pingo de orgulho.
Preste atenção!
Estamos, os dois, num barco sem leme…
E não se controla emoções:
A gente as vive,
Sem temer o futuro.
Saiba disso…
Tudo que tenho para te oferecer é carinho e amor…
No resto… Tudo sou pela metade…
Não sou letrado, não sou bacana, não tenho grana…
Mas te amo muito.

 

 

 

S. Paulo, 3, (ainda não acreditou que eu estava mesmo inspirado?) uma inspiradora quarta-feira de Dezembro de 2008.

Do Que Sou…

 

Eu sou mais que palavras,
Mais que uma voz…
Eu sou lágrima, sorriso,
Olhar distante…
Eu sou mãos que trabalham,
E acariciam,
E que pedem outras mãos…
Eu sou fragmentos de um tempo que já passou - passado e presente…
Que me fez assim:
Assim, como sou!
Eu sou presença inteira, única…
Frágil quando sonha e
Forte quando quer mais!
Eu sou o dar-me sem nada ter,
Sou o livro por ler,
Nota para entoar…
Metáfora de homem que o é sem o ser…
E eu sou mais que palavras,
Mais que uma voz que se perde no espaço…
Que diz quase nada…
Do muito de nós.

 

 

 

S. Paulo, 3, (eu disse que era…) uma inspirada quarta-feira de Dezembro de 2008.

N. do A.: Foi neste poema que eu assumi meu gosto por reticências…

Das Coisas Que Acredito…

 

Acredito…
No perfume suave de uma flor pequena.
Acredito que anjos brincam de colorir o céu em fins de tarde.
Acredito em silêncios e em palavras.
Em Paraíso…
Em sonhos, milagres e esperança.

Acredito…
Na alegria que mata a tristeza,
No carinho que esquenta a alma…
No sorriso que espanta o pranto e…
Acredito também em saudade.

Acredito…
No mar e em seu azul celeste.
Mar que leva suas águas por todo planeta…
Às vezes mansas,
Às vezes bravias.

Acredito…
Em coisas que não posso ver,
Mas que posso sentir.
E é preciso que saibas de tudo isso.
É preciso porque…
Eu preciso que saibas.

 




S. Paulo, 3, uma inspirada quarta-feira de Dezembro de 2008.

Sentidos

 

Com os olhos molhados
A imagem distorcida,
Tão confusa e distante
Como a frase não dita
Entre gritos e sonhos.

Não enxergava
O que se fazia,
Não escutava
O que se queria,
Mas sentia…
Todo o seu corpo,
Sentidos e desejos,
Sentia!

Escorria pela face
Chegando à boca
Com gosto de mar.
Lágrima de saudade,
De ausência…

De costas para essa gente
E de frente para o silêncio,
O grito não ecoava,
Mas também não se ouvia,
Apenas se sentia…

Os carinhos do vento,
Os caminhos do tempo,
A imagem e a frase,
Esquecidos…
Naquele momento
Vivido, sentido… efêmero.

Todos contra a razão,
Escrito na areia
Que a água apaga,
E tatuado em meu coração,
Onde a lágrima eterniza…
Teu nome!

S. Paulo, algum dia de Julho de 2008.

Das Músicas

 

As músicas que ouço
São mais velhas
Que nós dois juntos:
Doces e sonoras cadáveres.





S. Paulo, 23, a mesma sexta-feira (só que agora está garoando) de Abril de 2010.

Do Que Preciso

 

Tudo que preciso é de um pouco de sinceridade,
Não de tormentos…
Não quero entregar meu coração e minha alma
Para alguém reduzí-los a pó
E jogá-los ao vento
Como se fossem
A poeira da mesa de centro.

 

S.Paulo, 23, uma sexta-feira (que começou quente, choveu, esfriou e tornou a esquentar – coisas de S. Paulo) de Abril de 2010.

Carta Para A Bem-Amada




Um súbito sopro de inspiração…


Influenciado por um poema de Vinícius de Moraes (Para se viver um grande amor) eu peguei mais algumas folhas alvas de A4 e com a ideia fixa de escrever uma carta, de próprio punho, e com letra caprichada, para a Bem-Amada, ao que me surge do além (só se for) uma pergunta que nunca havia me visitado:


Mas o que escrever nesta carta para a Namorada?


Para escrever uma carta ao seu grande amor basta, tão somente, ser sincero nas palavras e que cada uma delas emane uma luz branca-azul que traduz o que a alma sente.

Para escrever uma carta ao seu grande amor é preciso que o coração sopre baixinho em seu ouvido todas as mais belas palavras para que a Bem-Amada posso entender como é importante e verdadeiramente amada, para todo o sempre de vossas existências.

Para escrever uma carta ao seu grande amor não precisa ser letrado nem consultar o “pai dos sábios” atrás de palavras interplanetárias, pois o Amor está nas coisas mais simples que já são, por excelência e mérito, as mais extraordinárias.

Para escrever uma carta ao seu grande amor não precisa tentar ser quem você não é. Seja você mesmo, ou seja, poeta (lembre-se de Platão).

Deixe que a Bem-Amada saiba o que causa em seu mundo, deixe que se assuste com tanto bem-querer e que ela o aceite como seu e, tão somente, seu. Deixe que a Bem-Amada saiba do impacto que causou, das noites insones por causa da avassaladora necessidade de um beijo “bem bão”. Deixe que a Namorada tome conhecimento de que tudo o que você faz é só para se tornar um homem melhor, perfeito – só para ela.

Deixe que a Bem-Amada se comova com suas lágrimas de saudade e preces lançadas ao vento para ecoarem na eternidade da imensidão do Universo como um desejo latente do seu coração.

Deixe que a Namorada saiba que, apesar de intenso e profundo, por vezes confundido com exagero, o Amor que sentes no peito não visa sufocá-la e, mesmo que ela não diga o que sente com a mesma frequência, você sabe que o Amor está lá e compreende que cada um tem seu sente a seu modo, tempo, intensidade e velocidade e que você respeita tudo isso, mas deixe claro que esse seu jeito desenfreado de amá-la faz parte de sua personalidade e de sua alma e não uma cobrança para que ela faça o mesmo.

Para escrever uma carta de amor basta um pouco de imaginação, sonhos, sabor de quero mais e adicionar as mais belas canções de amor que vocês elegeram como suas e que o faz enxergar a Bem-Amada por todos os cantos, onde quer que você esteja, pois, aqui entre nós, se o amor existe, se é verdadeiro, ela saberá que é amada apenas com aquele seu olhar de “presente de Natal”, mesmo que ainda seja Abril.




Mogi das Cruzes, 16, a mesma sexta-feira fria de Abril de 2010.

Eu Bem Que Tento Não Falar Sobre O Amor – Que Sinto.

 

Pleno surto poético - crônico...

Sentei-me...

Tentei olhar a rua através do vidro, mas nada me interessava do lado de fora. Pensei em escrever e fui levado a uma viagem no tempo. Fui para épocas longínquas, dias em que eu acreditava, com impassibilidade, que o Amor era apenas uma palavra composta por quatro letras cujo cinema e a televisão embelezavam com todo o glamour que têm direito.

Escrevo, originalmente, e de próprio punho, em uma folha de papel A4, tão alva que me fez pensar nos poetas da antiguidade e em como eles escreviam. Quais eram seus materiais favoritos? Como eram seus momentos criativos? De onde vinham as inspirações mágicas para textos tão precisos e de beleza inigualável. Escreviam pensando em si e na própria glória ou queriam atingir o coração da Bem-Amada (termo usado pelo querido poeta – e apaixonado - Vinícius de Moraes)?

Todas essas perguntas me conduziram a uma avalanche de outras questões que, para mim, são de extrema importância em sua essência poética e, por que não dizer, mística.

Imaginei a reação da Namorada ao ler poemas dedicados à sua beleza indescritível, sua pura inteligência ou quaisquer atributos que valha.

Ela devia ter se sentido a mulher mais amada do mundo, ou, simplesmente, sido indiferente à verbosidade daquele cuja horas a fio escreveu, infatigavelmente, versos e mais versos, procurando nas palavras certas transmitir à Bem-Amada um pouco do que se passava em sua alma e em seu coração (salvo que a maioria dos poetas da antiguidade sofriam por amores platônicos e morriam com esse sentimento).

Lembrei-me que também faço isso. Também amo! Também tenho uma “musa inspiradora”, minha Bem-Amada, e também, tento, através da palavra escrita, demonstrar o quão verdadeiro é o Amor que sinto em meu peito e o quão importante é a presença da Namorada em meu coração e qual o impacto que a Bem-Amada causa na minha vida.

Parece uma tarefa fácil? E é... Já dizia Platão em sua sabedoria: “Não há ninguém, mesmo sem cultura, que não se torne poeta quando o Amor toma conta dele”.

Hoje escrevo poemas mais sóbrios, mais apaixonados e com um vocabulário mais rico, mas já escrevi as mais ridículas e deliciosas cartas de Amor, mas desculpe-me Sr. Álvaro de Campos, mas não pago mais esse mico, mesmo adorando escrevê-las!

Já me vi, provavelmente possuído por um antigo espírito poético, no meu quarto iluminado apenas com luzes bêbadas de algumas velas e uma pilha de folhas de papel A4 sobre a escrivaninha (que há anos não tenho mais) buscando inspiração no bailar descompassado das chamas das velas que me cercavam. Pensava na Bem-Amada e começava a escrever à esmo, sem mais delongas.

Mas a vontade que tenho mesmo é de adquirir uma caneta tinteiro ou mesmo uma pena só para sentir como é escrever textos de tal importância com esses instrumentos mágicos.
Desde que eu consiga não fazer muita sujeira!

 

 

 

Mogi das Cruzes, 16, uma sexta-feira fria de Abril de 2010.

Mensagem Para Você

“Serviço de Mensagens Curtas ou Short Message Service (SMS) é um serviço disponível em telefones celulares que permite o envio de mensagens curtas.

O termo Torpedo é utilizado no Brasil para designar o nome das mensagens escritas que são enviadas para o celular, como SMS e MMS.”

Quem é que não gosta de receber, ou enviar, os famosos “torpedos”?

Por vezes são um pouco frios, mas mesmo assim, conseguimos expressar uma ideia, marcar encontros com os amigos e resolver qualquer assunto (eu disse “qualquer assunto”?) com poucas palavras.

Tem gente que simplesmente ignora o significado da sigla SMS e o transforma no principal canal de intermináveis conversas, e eu não estou imune ao seu charme irresistível.

Eu costumo desenvolver tantas conversas via torpedos, que dariam para escrever um livro de crônicas. E o mais engraçado é que basta um simples “oi, tudo bem?” pra desemaranhar uma longa conversa.

Eu ainda fico ansioso pela resposta a cada SMS que envio. Meu coração chega a parar por alguns segundos, minhas mãos ficam suadas à espera da nova mensagem que deverá (ou não) ser respondida com o máximo de rapidez que me for possível no momento e que sempre chega cortejada por um toque específico para SMS e uma mensagem no visor:

“1 Nova Mensagem de:”

E, dependendo do assunto, esta simples mensagem pode se tornar um flerte fatal, um diálogo amistoso, uma discussão calorosa, uma cervejinha no bar da esquina (ou o saldo restante de seus créditos), enfim, uma infinita gama de assuntos inadiáveis.

Mas existe um grave problema no SMS: é quando a resposta insiste em não chegar.

Não há nada mais apavorante, para um viciado em SMS, que uma mensagem não respondida. Você fuma um cigarro, dois, três, toma um café (eu prefiro coca-cola ou uma cerveja), duas aspirinas, anda de um lado para o outro, confere o celular de 5 em 5 segundos e nada da resposta aparecer para te tirar do abismo sufocante da angustiante e eterna espera pela resposta. Você precisa da resposta, você quer continuar o diálogo, transformá-lo em uma epopéia majestosa, quer fazer do seu “Short Message Service” o seu “Super Message Service”.

Já cheguei a enviar textos enormes via SMS, como, por exemplo: letras de músicas, trechos de poemas, poemas inteiros, trechos de um capítulo de determinado livro, e, até mesmo, o capítulo inteiro. Você nem pode imaginar quantos torpedos são necessários (e nem o valor de tudo isso) para se poder enviar “O Corvo”, de Edgar Allan Poe. Claro que teria sido mais rápido e, com certeza, mais barato enviar via e-mail, mas não teria a mesma emoção, a mesma urgência, a mesma empolgação e a mesma ansiedade pela resposta.

Sou tão viciado em SMS que uma antiga namorada decidiu (de forma impiedosa) terminar o namoro usando desse artifício. Foi trágico ver o meu tão amado SMS ser transformado em (quase) um equipamento de tortura, um interlocutor da maldade e crueldade alheia.

Por outro lado, foi via torpedo, que “xavequei” a minha atual namorada.

Mas tem o torpedo que você não quer responder, nem por reza brava.

Como o que eu recebi de um amigo há algum tempo (é, Breno, isso também aconteceu comigo):

- E aí, Vinnie? O que você está fazendo?

- E aí, cara! Estou tentando escrever uma nova crônica! E você?

- Eu também não estou fazendo nada. Vamos beber uma gelada no bar da esquina?

A partir daí não respondi mais.

E fiquei pensando, grilado:

- Como assim “não estou fazendo nada”. Eu disse que estava tentando escrever uma nova crônica, %$#@*&%$#@.

Como Escrever Uma Crônica?

Com certeza não no ônibus, pois a letra fica horrível, mas se você não quiser ouvir o meu conselho, vá em frente, mas pelo menos ouça este outro: não use lapiseira, pois o grafite quebra a toda hora.

Eu estava procurando a melhor posição, esperando o melhor momento de escrever (que é justamente a hora em que o ônibus para, alguém sobe ou desce - ou ambos), para escrever aquela frase inteligentíssima que tinha acabado de sair do fundo da minha alma e, quando o momento certo chegou, me dei conta: esqueci a frase.

Talvez fosse aquela a frase que desencadearia um parágrafo salvador da pátria e, consequentemente, se formariam vários outros parágrafos igualmente interessantes e minha crônica seria perfeita, mas não foi isso o que aconteceu.

Pronto. A viagem insólita por vários bairros da cidade, até chegar o meu, que é sempre o último, chega ao fim.

Encontro-me, agora, no aconchego do meu lar. Descanso um pouco da viagem, bebo algo gelado, pego alguma coisa para comer, tomo um bom banho, assisto a um pouco de televisão e sento em frente ao computador. Abro o Word e aquela tela branca de “novo documento” chega a me hipnotizar. Fico ali, parado, esperando a tal da inspiração chegar, mesmo que em forma de surto ou devaneio (ou outras verdades). E nada acontece. Nenhuma ideia genial. Simplesmente as palavras não vêm.

Ligo o videogame para relaxar um pouco, mato alguns zumbis, ganho algumas corridas (não chego a perder, pois antes disso eu seleciono a opção “restart race” e começo a corrida de novo), esperando que algumas vitórias inflem meu ego e me inspirem de alguma maneira, mas não é o suficiente.

Coloco uma musiquinha no Media Player, daquelas bem inspiradoras (pensei), tipo a do Bobby McFerrimDon’t Worry, Be Happy. E, de repente... nada.

Tento buscar inspiração nos meus ídolos da literatura (V. de M., Veríssimo, Jabor...), visito alguns sites e blogs na internet, assisto a alguns vídeos de comédia Stand Up no You Tube, mas é em vão: nada daquilo faz a minha mente brilhar e abrir as portas mágicas da crônica.

Comecei a me perguntar, tentando resgatar da memória, como foi o meu dia. O que fiz ou o que aconteceu de interessante que possa ser usado para escrever a tão sonhada crônica...

E a resposta saltou diante dos meus olhos:
- Eu passei o dia todo tentando escrever uma crônica!

Mas como é que se escreve uma crônica?