Escrevendo Uma Crônica: Parte II

 

Sábado ou “O que aconteceu ontem?”

Sábado de manhã, ressaca, dor de cabeça sem fim que chega a parecer que todas as baterias de todas as escolas de samba de São Paulo resolveram tocar dentro da minha cabeça, de uma só vez.

A geladeira parece uma cidade fantasma daqueles filmes antigos de faroeste de tão vazia que está.

Sento-me em frente ao computador para escrever mais uma crônica. Sinto-me inspirado, como se fosse a porta para um best-seller, mas não me lembro de absolutamente nada à respeito das filosofias de boteco que vieram à tona entre a segunda dose de Jack Daniel’s e a quinta cerveja.

É neste momento fatídico que recebo a visita de uma velha conhecida: a Síndrome da Página em Branco. É quando eu fico com os olhos fixados na tela branquinha do Word, quase num transe, acreditando que estou inspirado, porém, meus dedos não chegam nem perto do teclado e fico ali, paralisado, sem conseguir escrever uma frase completa que valha alguma coisa.

E isso se prolonga por horas e nesse meio tempo fico fazendo qualquer outra bobagem com o computador, esperando, e o pior, acreditando (o que eu posso fazer, sou um crédulo) que a crônica descerá dos céus numa luz divina. Abro meu e-mail, entro em um site qualquer, faço alguns downloads, olho o celular e vejo o tempo passar.

Abro o Word. Vejo a página em branco e penso que devia estar fazendo algo útil ao invés de estar perdendo um tempo precioso tentando escrever uma crônica.

Consigo digitar qualquer coisa, mas nada do que escrevi nas quase duas páginas valeu o esforço e acabo por assumir:

“Ficou uma merda.”.

Fecho o Word, olho no relógio do computador e meu estômago confirma que está na hora do almoço.

Preciso comer alguma coisa, mas não há nada no armário além de sacos de pão vazios. Vasculho por entre os sacos e encontro um com pães velhos (ótimo, torradas), mas os pães estão tão embolorados que parecem estarem vivos e prontos para me atacar.

Desisto da busca e volto para o computador e penso em chamar alguém para almoçar fora, talvez até me sirva de inspiração. Quis chamar algum amigo, mas isso poderia ser uma péssima ideia, pois eu correria o risco do almoço se transformar em cervejada e, adeus crônica. Vou chamar uma amiga – eu sei, fui ingênuo.

Ligo para uma, duas, três... E a soma vai aumentando em escalas exorbitantes, nenhuma aceitou porque acharam que era só mais um xaveco furado.

(Continua…)

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